Da cidade para o circuito é possível ir de bonde, hoje VLT - Veículo Leve sobre Trilhos, numa viagem rápida e agradável. Da estação até o circuito e museu é uma boa e ansiosa caminhada ao som dos motores acelerando sem que se veja a pista.
O museu está numa construção muito simples ao lado do circuito. Eu esperava algo mais marcante, inconfundível, que chamasse a atenção de longe. Uma vez dentro impressiona e muito a numerosa e diversificada coleção não só de carros participantes da tradicional prova, mas principalmente o aperto no qual todo incrível acervo está exposto. O ideal sempre é que cada peça exposta tenha um espaço para respirar ou que esteja junto a um cenário, que pode ser foto, peças, bandeiras, flamulas ou outra peça menor que dê o contexto geral. O que lá está, pelo menos o que o público tem acesso, deveria ter pelo menos o dobro de espaço. Os protótipos, inúmeros, de várias corridas, estão um no vácuo do outro, o que é uma pena. É certo que o museu deve ter um riquíssimo acervo de pequenas peças, revistas, livros, posters, ferramentas, roupas e outros mais que devem estar guardados em um outro galpão. De qualquer forma é um museu imperdível não só para apaixonados de carros e automobilismo.
Por pura coincidência e muita sorte estive em Le Mans num dia chuvoso de treinos prévios, não oficiais. O primeiro protótipo que vi chegar na Dunlop Chikane foi um híbrido ou Audi ou Toyota, não me lembro exatamente, que quando freia aciona o KERS, o sistema nos freios que gera energia para a aceleração. Juro que pensei que o protótipo iria desintegrar na minha frente. Nunca tinha ouvido o barulho gerado pelo acionamento do KERS, que é alto. Aliás, nunca tinha visto ou ouvido um híbrido fazendo uma chicane. Depois do forte e estranho barulho do KERS o carro simplesmente vai para o modo elétrico, silêncio completo, faz as duas curvas nele e na saída despeja toda a força e barulho do absurdo motor. A aceleração é brutal.
E também tive a incrível sorte de ter visto o Nissan Nismo GT-R LM, um protótipo completamente revolucionário, de tração dianteira, uma aerodinâmica de altíssima eficiência, um sistema de captação de energia baseado no princípio daqueles carrinhos de corda que você empurra para trás e ele dispara para frente, motor a combustão muito compacto, dentre outras soluções revolucionárias. O Nismo GT-R LM entrou na corrida sem ter terminado o seu desenvolvimento, o sistema de captação de energia não funcionou, e os dois carros, o 22 e 23, foram mal. As críticas da imprensa especializada ao projeto foram pesadas, algumas ridicularizantes. Nissan terminou o projeto logo após a corrida, demitiu toda equipe, inclusive o respeitadíssimo brasileiro Ricardo Dívila. Um tempo depois a telemetria veio a público e ficou claro que mesmo sem o sistema de captação de energia, ou seja, com uns 400 cavalos a menos potência que os outros, este Nismo chegava no final da longa reta tão ou mais rápido que outros protótipos, incluindo os oficiais de fábrica, os melhores e vencedores. Alguns jornalistas mais sérios declaram que com o Nissan Nismo GT-R LM morria e estava enterrada a era dos verdadeiros protótipos.